DISTANTE PROXIMIDADE
Aquela casa no meio do sertão Cortou meu coração Não tinha mais que um metro e meio E sem jeito o sertanejo Se curvava na entrada Parecendo um ritual de devoção O que pra nós poderia ser uma casa De bonecas Dessas em que as crianças fazem Suas ingênuas descobertas Parecia ser uma casa de verdade Com gente de toda idade No meio do sertão A seca com sua presença Exige que sejamos irmãos Ou então vem a doença Que aumenta ainda mais a seca Em forma de ambição Oh! Casinha de palha Com criança descalça Vendo admirada Aquela gente esbranquiçada Montada no cavalo da civilização Quantas peças de roupa tens em sua mão? Ainda hoje vi um daqueles cartazes Cheios de inflamação Nele se perguntava Onde está Deus pai da criação Se a fome e a miséria Consome o coração O que não se nota Ou o que não se importa É que Deus reside Justamente nessa grande indagação Que nos faz ver o outro Como próximo e ver o próximo como irmão Nossa! E como ventava nesse sertão E o mesmo vento que refrescava Punha em risco a casa de palha? Que poderia ir ao chão! E o mesmo vento que soprava Punha no rosto um sorriso Que fazia daquela criança A mais rica esperança De que a vida desafia Desafia ela mesma e todas certezas O sertão não é uma prisão É antes de tudo um mundo Leonardo Daniel in: Ventos da Alma (publicado)
Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 16/11/2020
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