A voz que nos fala
JORNAL O IMPARCIAL/ARARAQUARA
COLUNA: O CONTADOR DE HISTÓRIAS (coluna 7 - texto 2 – Janeiro 2005) A voz que nos fala Saudações amados leitores! Chegamos ao terceiro artigo que aborda nuances da contação de histórias, já tratamos de analisar o tempo, o espaço e agora trataremos do foco narrativo, estamos com isso, estabelecendo as bases necessárias para nos aventurarmos na prática dessa arte milenar. Vocês já pararam para pensar, nos mistérios que cercam a voz? De onde vem o som e pra onde ele vai? Que energia é essa que molda o espírito humano e levanta uma religião? Que força é essa que corrompe mente e coração e recruta milhões para o panteão? A voz que nos fala é pura vida para além da compreensão, por que cantamos pra que choramos? Quando que o silêncio é falar com Deus? Sabe tudo isso tem haver com foco narrativo, depois de Dante Alighieri em sua “Divina Comédia” nasce o “eu” na literatura, ou seja, o autor, o poeta é o narrador e essa mudança foi primordial para que o homem se expressasse agora a partir de si mesmo, nesse contexto o contador de história conta suas memórias, vividas por si e para si, o contador não mente nem inventa, prediz o que do espírito foi aprendiz. O foco narrativo então se estabelece na linha divisória entre o contador, o protagonista, o antagonista, as personagens secundárias, tudo no tapete do tempo no jardim do espaço... O contador é o narrador. O narrador se confunde com ele, mas não é ele, o narrador se veste com as múltiplas vozes e desenlaça a história com toda a beleza e atenção necessárias para que tudo gire em favor da imaginação, o contador se vale das mudanças para estabelecer o sentido simbólico das coisas e do mundo contado, por isso o narrador tem uma voz central semelhante à voz natural do contador e tem as múltiplas vozes pertencentes à outras personagens habitantes da narrativa. Esse contador que narra é como um Deus conhecedor da verdade, onisciente nesses atributos de predizer o que há, mas, não antecipa os fatos, assisti e deixa que as coisas aconteçam. Esse contador que narra, tem focada a sua atenção em cada detalhe vívido que dá vida à história e faz com que compartilhamos da mesma. Temos que perceber agora que o contador vivi em si a voz de um outro que diferente do seu “eu” ainda é manifestação do seu Ser, a voz que nos fala, fala também para quem conta, surge então a tal linha tênue que é divisória entre o contador e o narrador, entre o “eu” e o “outro”pois o contador é o primeiro ouvinte e é ouvinte de si próprio, assim ele pode se colocar dentro do manancial eterno da linguagem sem perder sua dicção sem perder sua vocação, todos sotaques do mundo se voltam para o início, não era essa a língua falada antes da Torre de Babel? Não é assim falando que entramos no céu? O foco narrativo é o enfoque de alguém que conhece e quer ensinar... Leonardo Daniel Ribeiro Borges* leodanielrb@yahoo.com.br *Leonardo é poeta, professor, contador de histórias e escreve esta coluna para o nosso jornal.
Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 13/11/2020
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