JORNAL O IMPARCIAL/ARARAQUARA

COLUNA: O CONTADOR DE HISTÓRIAS (coluna 6 - texto 1 – Janeiro 2005)

Um lugar especial

Saudações amados leitores! No artigo da semana passada falamos sobre o tempo, destacamos as diferenças entre os tempos físico e mítico e suas correlações com a contação de história, hoje iremos abordar como tema o espaço e na próxima semana fecharemos este pequeno ciclo de estudos nos detendo ao estudo do foco narrativo.
Nosso objetivo atuando assim é contextualizar o leitor com as nuances artísticas, psicolinguísticas e sociais provenientes da contação de histórias.
O espaço é um tema que muito me agrada, pois segundo Fernando Pessoa, na figura de um dos seus heterônimos: “Pensar é estar doente dos olhos”. Quem vê não precisa acreditar, quem vê tem diante de si mesmo a realidade nua aos olhos, e os olhos dos pequenos são ligeiros, focalizam a cada momento o movimento único da vida. Quem vê as belezas da narrativa vê enquanto imagina, para que pensar então se tudo é deleitoso e milagroso? Não há nada que não seja um mistério assombroso, e é pelo olhar que nos vêm a fé...
Um lugar especial é isto... É o espaço criado com o olhar da fé, é um lugar mágico, pois habita o mundo de quem o imagina, é um lugar real, pois tem como modelo os esplendores de beleza do mundo que nos circunda, este espaço também é uma metáfora do espaço físico da contação, precisamos, portanto cuidar dele, não tem cabimento narrarmos um castelo encantado, um céu estrelado, se onde as crianças e ouvintes estão não tem condições de beleza, de conforto e até de higiene.
A harmonia no espaço é preponderante para o sucesso da contação, não estou aqui me detendo a considerar o sucesso ou não da contação, pois isto já seria outro tema, o que estou dizendo e reafirmo é que almofadas, fragrâncias previamente difundidas, luz adequada, acústica adequada, ventilação adequada são formadores do espaço físico e estimuladores do espaço anímico, são em suma de fundamental importância. Lembremos por um momento o advento do Cristo, ele nasce num lugar simples, mas harmonioso, ele nasce em meio a animais, porém mansos e prestativos, o presépio do Natal é um modelo espacial de como harmonia e simplicidade estão unidas para o bem do homem e da vida.
Não se precisa de um espaço luxuoso, precisa-se de um espaço simples e harmônico, tendo dito isso, podemos agora adentrar no vale encantado e maravilhoso das histórias, antes de se contar uma história tem que vivê-la, e para tanto é necessário três coisas: relaxamento físico e mental, concentração mental e imaginação, para esta apreensão simbólica da experiência mítica o tempo deve ser controlado para não nos chegar o cansaço, vivemos a história também enquanto a lemos, a ouvimos e a contamos, o mais importante de tudo é que somos motivados por imagens, e estas imagens afloram num sentido espacial, elas são os espaço!
Descrever, portanto a beleza dos lugares, dos corpos, do mundo é relevar o que de beleza somos capaz de emanar, somos como espelhos, ou como um lago sereno que revela o que os rodeiam, por isso amigos é fundamental se encantar, se o rio é profundo sua água é cristalina? Como são as plantas e a vida submarina? Por acaso a água está fria? Tudo isso nunca é rotina, é sempre um algo novo, é mágico para quem imagina. Para viver a história percorremos em nós mesmos os campos, as árvores, os prédios, olhamos nos olhos das personagens e assim seguimos nossa viagem, o espaço da história, é o mundo em que permitimos nos explorar, descrevê-lo é um sinal de que ele ainda está lá, não do mesmo jeito, diverso e esperando o que o narrador irá recordar.
Recordar significa trazer de novo o que está no coração, se encante com a beleza, veja com os olhos fechados, veja com o coração, assim da próxima vez que forem contar uma história o espaço nunca estará sem emoção.  


Leonardo Daniel Ribeiro Borges*
leodanielrb@yahoo.com.br
*Leonardo é poeta, professor, contador de histórias...