Léo Daniel

Amar é servir. Servir é ser livre para Amar.

Textos

E-STÓRIA

Tudo começou em 1985... Quando eu tinha uns sete anos, idade perfeita para descobertas e também para fazer planos. Nasci em Goiânia capital de Goiás e nessas alturas onde o sonho infantil brilha mais que o infinito, do outro lado mapa, mas ao sul surgiam os Engenheiros...
Os Engenheiros do Hawaii, um grupo de rapazes que mantêm o fogo da compreensão acesso, acesso a noite toda e que encantou, encanta e encantará muitas gerações. Eu com meu irmão, Marcelo Henrique, lá por volta do início dos anos 90 curtíamos e ainda curtimos muito os LPs (discos de vinil) “O Papa é Pop” e “GLM”, mas hoje percebo que ainda vive dentro de mim a criança de sete anos, e, não pertenço a uma geração específica de fãs. Hoje sei “que só a mudança é permanente” e em volta do coração existe muito espaço para sobressaltos enganosos, mas existe também um porto seguro para aquela real emoção.
Muita emoção tive na vida com as músicas dos Engenheiros e aprendi que só aos 30 anos pude entender certas coisas, o bom é que todo mundo leva para casa uma epifania mágica de alguma música, de alguma passagem é isso que me faz sentir unido a todos mesmo sendo diferente. Mas eu, eu tomado por um “delírio de grandeza” e por uma euforia do tamanho das ondas de um mar revoltoso um dia, um dia pude sentir com muito amor essa história que se passa nesse livro.
Esse livro que é um romance destinado a causar dúvidas no leitor, nasce do fruto latino de querer contar bem uma história tão bonita e não podia ser diferente, em 2010 os nossos amigos Engenheiros fazem 25 anos de carreira, de estrada e quem ousou sonhar com lindas danças nos anéis de Saturno com sua amada, agora com 30 anos se volta para o papel e caneta e se aprofunda no delicioso chimarrão que é escrever.
Um dia chega minha mãe com o disco (vinil) do “O Papa é Pop” embrulhado para presente, era aniversário do Marcelo meu irmão. Nossa! Ouvir “Exército de um homem só I” pela primeira vez mexeu comigo. Eu acredito que o Marcelo tenha gostado mais do “Exército de um homem só II”, mas o que levou mesmo a querer o disco, foi o a regravação de: “Era um garoto que como eu...” Depois já em 2003 ou 2004 eu e minha amada compramos o DVD, “Filmes de Guerra Canções de Amor” e uma surpresa tivemos: uma recordação! Lá estão “Exército I e II” juntas para sempre...
Quando adolescente meu amigo e vizinho Fabrício ganhou ou comprou uma fita K-7 do disco “Filmes de Guerra Canções de Amor” e aquela sonoridade delicada me chamou muita atenção, me trouxe calma, num momento difícil no qual tentava sublimar tudo nas artes marciais.
E foi justamente nas aulas de arte marcial que eu viajava no som dos Engenheiros, Pink Floyd, Legião Urbana e outras bandas, graças ao meu amigo e professor Luiz Cláudio que dono de uma filosofia impar, nos fazia refletir sobre a arte, a luta, a vida e a dança. Nós lutávamos Tae Kwon – Do.
Me lembro que um dia quis vestir uma camiseta preta de heavy – metal e ir para a academia. O Luiz falou:
– Pô cara! Todos os atletas da academia estão virando heavy!
O que ele não sabia é que na volta, no meio do caminho com meus amigos eu cantava: “Prenda minha Parabólica... Princesinha Parabólica...”. Era o ano de lançamento dessa linda música e eu vivendo minhas ambiguidades.
O lance da arte marcial associada ao pensamento filosófico foi marcante em minha vida e o disco que vem a memória é o verde o “Várias Variáveis” e a música trilha sonora dessa estação, onde a vida pede pelo amor é “Descendo a Serra”:


Tô descendo a serra
Cego pela cerração
Salvo pela imagem
Pela imaginação
De uma bailarina no asfalto
Fazendo curvas sobre patins


A música continua... O inferno ficou para trás e para trás também foi ficando as brincadeiras com os bonecos do He-Man.
Me lembro que aos treze anos numa academia de musculação, nas tardes costumava tocar na rádio a música “Infinita Highway”, esses momentos me marcaram também, nós que estávamos nos exercícios cantávamos trechos da “Infinita” e eu com treze anos ousava pensar profundamente sobre o ser, as palavras e as coisas e intuitivamente preparava meu corpo e minha alma para (re)econtrar Elisangela.
Na escola, no Colégio de Aplicação, as aulas de português com o Professor Geraldo eram uma festa, uma descoberta, uma celebração. Sempre fazia redações, motivado pelas músicas do “O Papa é Pop” e “GLM” que eram os discos que eu tinha mais acesso e também do disco “Que País é esse” da Legião Urbana, esse disco já do meu irmão Paulo Fernando.
O meu disco, (eles eram caros, pelo menos na época e para nós) que fui adquirir mais tarde comprando de um amigo foi “Rádio Pirata ao Vivo” do RPM. Temos o vinil até hoje.
O “Várias Variáveis” eu já o conhecia, um amigo meu de catequese, o Rubens tinha o vinil com aquela capa verde, cheias de símbolos para se devorar, com os olhos e pensamento. Nós nos divertíamos com a mensagem “Beba Chimarrão” e não é que na minha rua o Lito amigo meu e padrinho de casamento bebia e bebe chimarrão e... Às vezes eu, ou eu e a Elisangela com ele, ele que agora é pai do Heitor e esposo da Ana Paula nossa amiga e madrinha. No “Várias Variáveis” a canção “Muros e Grades” era tão emblemática para um garoto que nem sonhava que um dia iria estudar Grego Clássico e assim a etimologia das palavras do português, eu ficava imaginando durante anos o que seria o “absurdo” que se fala na música e além dela, hoje eu sei! Você sabe? Quer saber?
Absurdo é não ouvir a voz da sua própria consciência e assim se envolver no erro da decisão...
Quando se ouve a si mesmo, o real ser que se é, se toma a decisão certa, e já não há absurdo...
No contexto da música “Muros e Grades” não se passa pelo processo deprimente da escolha...
Ouvia as músicas, no entanto nem sonhava em ir aos shows, não tínhamos muito dinheiro, não tínhamos ninguém para levar, era impossível ir sozinho. E assim foi... E assim fomos crescendo... Eu fui crescendo e o que eu mais aprendi com os Engenheiros nessa fase da vida é que a dor de perder um grande amigo passa. Como passou a dor de “perder” o Jurandir Jr. , o Jurubeba... E sentia comigo que havia ainda muito por aprender, com os discos, com os hinos, com a vida.
Foi então...
Que o mais mágico encanto aconteceu. No dia 02 de setembro de 2005, eu ela, juntos para o que der e vier. Juntos para valer. Eu e Elisangela unidos pelo Amor.
Amor à primeira vista...


quando te vi
tive a impressão de que não era a primeira vez
quando te vi
tive certeza de que não seria a última vez
não, não seria a última vez


Quantas músicas eu decorei para decorar o coração dela? E quantas ainda quero decorar?
Ah! Isso nem as estrelas sabem e podem contar...
Cantava para ela na Praça Universitária todo fim de tarde, quando namorávamos ou num ano antes debaixo das árvores do Campus II da UFG. A paixão e o amor explodiam em meu peito cada qual querendo seu espaço, por fim o amor venceu.
Namoramos, noivamos e casamos... Eu com 19, ela com 25. Fomos morar em São Carlos / SP. Muito felizes e realizados, uma vida nova de sonhos e esperança se abria nos horizontes de cada manhã. Morávamos perto da UFScar, tínhamos cachorros, gato e amigos. Só não tínhamos muito dinheiro, minha amada ganhava bolsa de mestrado e eu ganhava pouco mais de um salário mínimo, trabalhando em duas academias, como professor de natação e noutra de musculação.
Um dia fomos a uma loja de CDs, nela eu vi o CD dos “10.000 Destinos” para vender, fiquei super a fim de levar, mas então eu vi uma coletânea e como estava meio por fora do que estava rolando com os Engenheiros, eu escutava muita música clássica nessa época eu preferi levar a coletânea. A Elisangela levou um CD do Djavan.
E durante muito tempo, este foi o único CD dos Engenheiros que eu tive. Um dia um amigo nosso, que tocava numa banda e frequentava o mesmo grupo de estudos gnósticos que nós, gravou uma fita K-7 com diversas músicas dos Engenheiros e nos deu, tinha músicas de diversos discos, inclusive do “Humberto Gessinger Trio”. Ouvi muito essa fita. A canção que me vem agora a memória e que me marcou nessa fase, foi: “Freud Flintstone”. Aquele começo
com a bateria chamando minha atenção... O início dela que diz: “Querem sangue, querem lama...” Eu ficava pensando sangue de quem? Do Humberto? Ele é o ídolo? Ele é o Freud Flintstone? Hoje eu acredito que se trata de outra pessoa...
Só em 2003 passei a comprar discos dos Engenheiros, minha vida mudou muito nesse ano, como de quem nasce de novo para ver de perto as estrelas no alto da montanha. A vida da Elisangela também seguiu esses compassos de mudança. Um amigo meu me deu CD com mp3 de quase todas as músicas dos Engenheiros e eu agora morando em Araraquara / SP estudando Letras na UNESP e minha mulher fazendo doutorado, comprei o CD “Dançando no Campo Minado”. Gostei muito do som, era o que precisava ouvir naquele momento... Refletia a coragem de dar novos passos. Peguei o CD e levei para minha psicóloga Carina, do CAPs de Araraquara, fomos juntos escutar a música “Dom Quixote”, ela falou:
– Você gosta muito de Engenheiros, não é?
– Gosto, mas fiquei um tempo sem ouvir...
– Por quê?
– Eu escutava muita música clássica e New Age, para relaxar e concentrar.
– Mas essa música que você trouxe, “Dom Quixote” é muito bonita e profunda, você se identifica com o “eu lírico” da canção ou com o personagem “Dom Quixote”?
– Me identifico sim, em muitos momentos e sob muitos aspectos.
O mais legal é que num show sentado de frente para o Humberto, antes ou depois de um acesso de choro por um motivo muito especial eu cantei bem alto, na hora certa: “Muito prazer meu nome é Leonardo!” minha catarse se completou. O que será que passou na cabeça do Humberto?
Em 2003 reinventei um projeto meu criado em 2001, uma oficina de poesia chamada (RE)Engenharia do Rock, tínhamos o apoio da prefeitura e patrocínio de um colégio, depois patrocínio de um cursinho, de um amigo meu o Du, (José Eduardo Cagnin). Um ônibus levava estudantes secundaristas para o auditório da Biblioteca Municipal e lá um telão com caixas de som e microfones esperavam os alunos, fui comprando DVDs e baixando clipes da internet e hoje nem sei quantos DVDs tenho, nós tirávamos da sugestibilidade sonora das músicas motivação para o ritmo do poema, e “no fim tudo é ritmo”... As letras eram trabalhadas num contexto linguístico e filosófico e viravam “motivos” para se escrever, temos poemas lindíssimos dessa época e a (Re)Engenharia do Rock segue comigo até hoje. Hoje ela está unida ao meu trabalho de divulgação dos meus livros.
Alguns poemas escritos em Araraquara, onde sempre rolou Engenheiros:


Apropriação

A ideia que se faz ausente agora
torna-se tema da presença,

criando vida, ganhando espaço
mesmo sem forma, cheiro e cor.

Apenas palavras de um quebra-cabeças.
Sem rima, sem calor.

Anderson Ilho (coordenador da oficina)

Sem Título

Chega em silêncio e de mansinho.
Sem perceber fico sozinho.
Tento vencê-la, não consigo.
Me torno agora meu pior inimigo.
Não sei se vem de dentro
ou se vem de fora,
só sei que me apavora.

Sem você o tempo voa.
E com você, eu choro à toa.
Traz consigo meus defeitos:
inveja, preguiça, orgulho e preconceito.
Mas no fundo eu agradeço
pois assim eu os conheço.

Penso às vezes em me matar
com medo de te enfrentar
pois sei a causa de sua existência.
É a triste conseqüência
de minha passada adolescência.

E sem saber o que fazer,
passo agora a escrever
e aproveitar para te dizer
que admiro sua perfeição.
E agradecer por me mostrar
que a vida é uma ilusão.
Obrigado, depressão!

Ricardo Antônio Bassi


Conteúdo da alma

O amor é um sentimento profundo.
Fica depositado no fundo da alma,
preenchendo o pequeno vazio
deixado pelos outros sentimentos.
Porém o amor resiste à ausência de vida,
mas a vida não resiste à ausência do amor.

Léo e Rafael


Sem Título

Lembranças teremos
De nossa infância perdida
Eu quero, eu quero
Mas o que você tanto queria?
Ate hoje não sei

Sonhe, lute e cresça
Cresça não por fora,
Mas sim por dentro

Ame, ame muito,
Mas se preciso fique só,
Sorria, sorria sempre,
Mas se preciso, chore, coloque
Suas dores para fora

Então grite, e grite bem alto,
Com isso conseguirá um
Grito de sua mãe, um castigo
De seu pai e uma piadinha dos
irmãos
Por que...
Algum dia entenderemos...

Anônimo (feito por uma aluna)


Logo foi lançado em 2004 o acústico MTV, aí minha vontade de ir em shows foi se tornando irresistível, iríamos voltar para Goiânia em 2005, e planejávamos ir a um show num clube de uma cidade mias ou menos perto de Araraquara, o mais legal de tudo é que no dia que chegamos em Goiânia com a mudança e tudo, incluindo nosso cachorro Rufus, Tchum! Um show dos Engenheiros do Hawaii no mesmo dia, nós já sabíamos do show, minha mãe, Dona Glória já havia comprado os ingressos, o show seria no Clube Jaó.
Cansados da viagem que nada, estávamos muito felizes, passava sempre um filme na nossa cabeça, do que já tínhamos feito... Do que havia por fazer... Eu doido para publicar o “Chanin, Chanin, Miau!”... Na mudança o caminhão estava demorando, então eu apressei um dos senhores dizendo:
– Moço eu tenho que chegar em Goiânia amanhã, pois tenho que organizar uma documentação para um emprego!
Não havia emprego, havia o show!
E nós vimos e Humberto no palco vestido de branco, pela primeira vez. Foi maravilhoso, o amor do que é capaz? Logo percebemos como ele é alto! Aliás seu nome (Humberto Gessinger) etimologicamente quer dizer Gigante de Luz que Canta.
Estávamos na área vip, uns três metros do palco... Realmente não dá para explicar tanta emoção... Foi um banho de luz nas nossas almas, e como estava lotado o Clube. Ele cantou “Ando Só” eu me lembro, sabia todas as músicas, mas tarde na gravação dos Novos Horizontes eu encontrei com o Humberto na entrada do Hotel, por sorte ou sincronicidade ficamos no mesmo Hotel, a Sara e a Anita duas amigas tentaram tirar uma foto minha com ele, mas a foto se perdeu. Só consegui correr ao encontro dele e dizer:
– Nossa você é um gigante!
Elas pediram para ele tirar uma foto comigo ele aceitou e foi tudo muito bárbaro.
Ele olhou nos meus olhos e nos dele profundamente o que dizemos um para o outro com esse olhar? Só os Deuses sabem!
Ainda em São Paulo, no aeroporto voltando para casa, surpresa: encontramos com o Humberto e família elas (Sara e Anita) falaram que a foto tinha perdido, e, ele aceitou tirar outra foto comigo, que também se perdeu. Mas ainda quero minha foto com ele, não desisti, o livro “O Pequeno Gremista” autografado eu tenho, comprei com o autógrafo, numa promoção especial pela internet.
Eu falei que tinha vindo de Goiânia ele disse: “Que legal!” Perguntei se ele tinha gostado do show em Goiânia no Oscar Niemayer e ele disse que sim, então eu fiz um pedido para ele voltar a tocar lá. Nesse show que foi em dois dias, fui aos dois, primeiro sozinho, depois com a Elisangela, foi tudo tão bonito a iluminação, os fãs com capas de discos de vinil nas mãos, as luzes em azul brilhante, azul néon, azul da chama trina de esperança, das máquinas fotográficas, e nós vendo tudo e amando tudo. Eu um viajante perdido nos porquês.
O pedido foi realizado, eles tocaram no outro ano (2008) não no Oscar, mas no Teatro Rio Vermelho, um lugar também muito bom, parecia o prenuncio do que seriam dos shows do Pouca Vogal, eu sempre bem acompanhado, se eu não estava com minha mulher, estava com meu sobrinho Gabriel e minha sobrinha Luna. Ficar até tarde acordado depois dos shows é uma emoção tão forte que me faz pensar de forma tão anímica que só mesmo recorrendo à farmacopeia para conseguir dormir.
Conheci também o Carlos Maltz, fizemos o mapa astral com ele, foi incrível... E conheci também os outros integrantes da atual formação, no hotel em São Paulo.
Chegou a hora de contar um pouco e de forma paralela a minha narração a história dos Engenheiros, não pude fazer isso sozinho. Perguntei para o Anderson Fonseca, o mesmo Anderson que fez o site para o Maltz, após o encontrar levando uma vida bucólica nos arredores de Brasília se ele poderia cuidar desse texto para mim. E ele acenou com um ‘sim’ na verdade ele disse:
– Cara conte comigo para o que precisar!
Esse deve ser o gênio do Anderson, sempre alerta, sempre pronto a ajudar. E ajudou com o texto que segue abaixo, temos um panorama bacana da história da banda, o livro que aqui narro, ganha um aspecto pedagógico sem perder de vista seu tom literário, já que é essa a intenção, unir com destreza realidade e ficção, entretenimento e informação, como em “Fusão a Frio”! E se ninguém sabe como serão os filhos desse casamento, fica em nós a dúvida e o desafio do descobrimento.
Bem vindos todos ao texto do Anderson, mergulhemos um pouco nele, logo em seguida volto com o contato com vocês, eu e minha nave... “Lá do alto deve ser bonito...”.
Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 19/10/2020


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras