PSICOSE COLETIVA
- Lá vai ela! Mata! Mata! Ele tá batendo nela, vadia! Mata! Mata! - Derruba ele também no chão, mata ele! Mata! {...} A psicose coletiva se alimenta de uma específica saturação do ar cuja ambientação e retoque se dão no aspecto subliminar indireto da fuga trágica do grande episódio neurológico individual no qual o protagonismo sucumbe aos ditames e desiderações que mudam e/ou interrompem a sequência do filme. Clipe de ação – desespero persecutório. O Gigante teve a sorte de não ter sido vítima de nenhuma psicose coletiva, seja por incumbência de destinos falidos pelos fanatismos religiosos ou não, seja pela loucura insana de jovens que estão a um passo do crime hediondo cometerem. A vida assim não tem graça, viver sobre o concreto das calçadas e de chofre se tornar mágico: o homem invisível, não é ser ditoso, não é ter graça e ser feliz. Era assim que eu pensava, é assim que eu penso, não temos aparatos ideológicos de poder que não sejam apenas desculpas e evasivas para deixar quem está à margem, morrer de fome, de frio, e sumir com aquele corpo dali. Acontece que o Gigante fazia relevo, era relevante. Acontece que o gigante metia medo. E o medo é a ignição da psicose coletiva. O medo é o ladrão da consciência. Que rouba das labaredas da intuição o dourado de todo primado do que é certo. Certificando certamente que os brutos também amam, só não sabemos o quê. Alguém sabe? Há alguém que saiba? Escrever é atestar o que não se sabe. Nesse ponto afirmo que os brutos travestidos de santos, presumidamente uns cidadãos, são depois de minha hipnose, piores que “o esmagador de Jesus”. Mas confesso que demorei compreender essa idiossincrasia assintomática e entrópica do Gigante. Confesso que sofri. Sofri muito... e tanto faz, pois nunca quis ser do Cristo um vingador, chega de cruzadas e cruzados portanto. Minha religião é outra, sou filho de Roma, sou filho do Amor. Do Cristo sou soldado, mas soldado da paz... Teve gente que ao saber do delírio destrutivo do Gigante, desejou que o pior lhe acontecesse. E o que pode ser pior do que viver à margem da sociedade, sendo um nada, um invisível? O que pode ser pior do que a fome e o frio? E como ou com quem lutar para não morrer da fome misantrópica e do frio da indiferença, frio que mata pelo olhar que mata. Na psicose coletiva, o que é errado vira certo, linchar o tarado mesmo que se tenha que matar o delegado, não é assim tão ruim... Não é tão ruim. Pois se um chuta, o outro soca, se um fura com faca o outro dá a última paulada... e assim a culpa é de todos... é de ninguém. E não há ninguém mais covarde do que do que o fraco que se esconde no anonimato. Morte, portanto à obscuridade. Morte ao obscurantismo. Não precisamos de aleijões no intelecto, nossa moral de tão decadente, caduca em volta do isqueiro que queima a mão. E a moral teme ao fogo. A moral quer a todos bobos. No entanto a concupiscência quer a todos mortos. Um muro pode ser de uma prisão, mas o Poeta precisou de um muro de neurolépticos, para ele o réquiem chegou muito cedo, 25 anos... e desde então entra com vigor e em trajes de banho no lago onde antes havia a deixa deixada pela sétima pedra na água, de tanto chorar e de tanto querer que as Três Montanhas virasse um passeio excursionável e não o melodrama de uma conquista do inóspito. Ele conseguiu. E ele chorou como sangue, suas mãos pediam por S.O. S seu fôlego sôfrego sofria a falta de ar. “? quanto tempo faz ? uma semana atrás ? No topo do mundo, na crista da onda Numa euforia de se estranhar ! pouco tempo faz ! uma semana atrás ! No topo do mundo, na crista da onda Um mergulho em busca de ar” RITOS DE PASSAGEM HUMBERTO GESSINGER Não dá mais para chorar, fantasmas desfilam com o que sobrou das lembranças. A Psicose Coletiva mostra o seu lugar, do medo ela veio, para o medo ela vai voltar, sem frio, sem tino, sem chuveiro ou chuvisco a Psicose que roubou do Poeta o medo, deixou com ele o para-raios e ele nunca tem medo de acordar, choques são brutamontes disfarçados de freiras, mas de qualquer maneira, choques sorvem de delícias nevrálgicas o espasmo de saber que errar pode ser melhor do que ser o Pinguim da Geladeira. Por isso de ter vivido um momento tão trágico e psicótico, o Poeta temia pela vida de seu amigo Gigante. O Poeta sofre e sempre que nos vemos sofrendo e sozinhos, Deus desliga o videogame. Então o Poeta inicia sua prece... “O poeta inicia sua prece Ponteando em cordas e lamentos Escrevendo seus novos mandamentos Na fronteira de um mundo alucinado Cavalgando em martelo agalopado E viajando com loucos pensamentos” CANÇÃO AGALOPADA ZÉ RAMALHO texto do livro: "O Poeta e o Gigante"
Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 20/07/2020
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