Léo Daniel

Amar é servir. Servir é ser livre para Amar.

Textos

HIPNOSE


O fim é um recomeço e para quem ama é sempre início, sem meio e sem fim.


Pergunte-me se eu sei como essa história vai acabar... e eu direi: “sim, eu sei”... mas não sei o que dela em mim vai ficar e a isso só saberei quando já tiver concluído, concluído este livro. Por hora quero falar de algo que me chocou, ah, não se importem se esse narrador for heterodiegético, pois no fundo só sabemos mesmo o que queremos saber, nisso reside o trabalho de um psicólogo, de um grande professor: despertar a sede de conhecimento. Conhecimento para dentro era o que mais o Poeta tinha... ele não era mais um anacoreta, mas em sua bagagem faltando alguns pedaços estava seu coração. E sua bagagem, bagagem de mão, cabia poucas coisas, cabia dois livros gnósticos, cabia uma aliança escrita: “Elisangela Eternamente”, cabia um binóculo e uma luneta. E pronto! O que mais ele precisaria? O Poeta, não era gauche na vida, mas também estava fora da cretina cena literária em que vivia. Isso se dava em parte por sua melancolia, abstrata, e, até aquele momento de incapaz solidificação bioquímica, e, em parte porque a cena era por demais; corruptível. Por demais, burra demais. Mas mesmo assim ele publicava seus livros, pois realmente tinham muito talento, era do ramo e lutava para ser reconhecido, não como um episódio de um exórdio, mas sim na conquista do pão do dia-a-dia. Certa vez, algo mágico aconteceu, ele ficou para sempre com uma frase aforística vinda de sua psicóloga, a frase dizia:

“A expectativa do hoje faz a vida do olhar”.

Desde então, o Poeta tem acordado de um modo diferente, ele pergunta sempre a Deus: “Mestre o que há de mais especial na gente?” E Deus fica mais feliz, quando as pessoas se perguntam se realmente Ele existe, pois é nesse sentimento de dúvida e inquietude que a nós; alguns mistérios são revelados. E o Poeta respirava mistérios sem mediação, epifanias que diziam que toda metanóia acontece pela metade, portanto ele levava um bloquinho de anotações para toda parte.
O Poeta se chocou quando perguntou ao Gigante, naquela manhã de um dia qualquer com toda chance de ser o dia mais especial:
- Quem é você?
- Eu sou Deus.
- Você é Deus? Me prove então!
Silêncio total. Eles se olham nos olhos por eternos segundos.
- Que poder você tem?
- Silêncio novamente.
- Você é mais poderoso que Jesus?
- Eu esmago Jesus com uma mão. (disse ele em um grito e sem circunvolução do olhar e de forma dramática).
O Poeta quis chorar. Chocado ele estava. Mas não sabia se aquilo era um arroubo de delírio de grandeza, ou se era o filme repetido que ficava passando sempre e sempre na mente do Gigante. Como será aquele Universo? Parecida ter terrores dantescos que impõem à consciência o regime de admoestação. Mas o inferno é incompreensão. E assim, o Poeta diletante de suas necessidades, resolveu dar um tempo de tudo aquilo que vira e ouvira até ali, já que não compreendia aquele comportamento tão violento. Mas com o Gigante ainda travava certa amizade, dava-lhe pão, algum salame, e às vezes refrigerante... no entanto as conversas ficaram suspensas, presas na falta de encanto. Na falta de ternura... quase mortas pela brutalidade iconoclasta que atenta contra a imagem que de Deus temos. A imagem que nossos corações miram... Jesus Cristo na Cruz é Jesus Cristo esmagado pelas mãos dos Gigantes? Um gesto de louco protesto? O tempo sorve-se do sortimento vivo e na parcimônia das esferas andinas aplaca o funesto e salva Fausto, desde que haja em nós o sincero proposito de amar e perdoar, amar e pedir perdão, amar e se auto-perdoar, amar e esquecer.
A vida nesse contexto não deve ser julgada ou promulgada em flancos de flagelos hipócritas e vítima às vezes do mito da neutralidade científica. A vida aqui é digna de meditação, findando com preconceitos grotescos e percebendo a presença dos que são sutis, (os piores) meditação que vai unindo sentimentos, confrontando logicamente os fatos, refletindo animicamente... O Poeta estava pronto para receber sua dose de Hipnose.

texto do livro: "O Poeta e o Gigante".
Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 20/07/2020


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