Léo Daniel

Amar é servir. Servir é ser livre para Amar.

Textos

A BENGALA DE NOSTRADAMUS


“eu sou moço, seu moço, e o poço não é tão fundo
super-homem não supera a superfície
nós mortais viemos do fundo
eu sou velho, meu velho, tão velho quanto o mundo”

Humberto Gessinger


Sem cessar. A vida diz ‘sim’ quando não que dizer ‘não’. Vá por mim, a vida nunca se engana meu irmão. Engano é pensar que de tanto estudar já se sabe todas respostas de tudo e para todos. As respostas chegam quando surgem verdadeiras perguntas. Verdadeiras perguntas aparecem quando há uma sincera necessidade. A relação entre perguntas e respostas abrem as portas para o que se chama especulação (que pode não resolver nada), mas abrem também as portas da oportunidade. Oportunidade é algo que jamais devemos perder, não que ela nunca mais volte, mas porque é na oportunidade, no desafio ao longo do caminho que vamos comprovar daquilo que chamaram de maturidade... Para, Nietzsche, um filósofo amigo meu: “Maturidade no homem significa reaver a seriedade que se tinha quando criança ao brincar”.
O Gigante era dessa forma algum tipo de filósofo também. Ele não tinha bengala. Não nada... e esse nada mesmo que era tão emblemático e metáfora de tudo. Ele brincava com o olhar. O que será que imaginava?
Quais lembranças povoavam seu coração? Na tela da sua mente, passava filme de cinema? Ou novela de televisão?
Essas são perguntas de difícil resolução. Mas poeta é alguém que usa de um sexto sentido, usa da intuição. E o nosso amigo sempre antenado no que ouvia, no que via, no que sentia, e em suas ações, sabia das coisas. Não de tudo claro. Mas suspeitava que o Gigante sofria de um abandono de Deus, para ele o Gigante era um Órfão do Mundo. Um Profeta Abandonado e assim sem incorrer em vaticínios médicos e diagnósticos psicológicos, o poeta vai em busca de apenas uma resposta: “- Como conseguir fazer com que o Gigante mude dali?”
Tinha ele o medo, de que um grande mal acontecesse. No seu país já houve casos de moradores em situação de rua; serem espancados até a morte... e não posso esquecer que um índio, o Galdino foi queimado vivo em Brasília. O poeta era o que chamo de alienado soft.
O ‘alienado soft’ é um cara que só se informar com precaução, que não assiste sobre violência e nem se enfarta de informação. Ao contrário sua fonte não é a TV sua fonte são as pessoas que encontram pelo caminho, as que amam e as que são desconhecidas. O poeta tinha um oráculo, chamado Internet... e lá bebia da fonte do conhecimento... e numa dessas viagens o poeta descobriu ao pesquisar sobre o tema: “O Profeta Abandonado” que: “um grande sofrimento pode causar esquizofrenia” isso é que chamam de fatores ambientais... Mas essa afirmação tem que ser ponderada pelo fator genético. Base desse tipo de doença mental.
E a bengala do poeta eram as setas disparadas de seus olhos, não tinha ele medo de procurar em cada olhar; gestos perdidos ou subentendidos de afeto e carinho, e assim ele influenciava todo mundo, assim era como previa o futuro, mudando a sequência final de cada filme, o filme de cada encontro. O poeta não era demagogo, mas sabia como conduzir o povo, ou melhor, um indivíduo. O poeta tentava ao certo de tudo para fazer com que o Gigante acreditasse nele, acreditasse que vivendo na rua era por demais perigoso. Quem tá à margem é carta fora do baralho, é indigente que se enterra em vala comum. O POETA TINHA MEDO. Enquanto que o Gigante respondia, ao se perguntado se não queria uma cama:
- Aqui minha cama aqui.
E apontava para o velho cobertor sujo e surrado que cobria os vincos da calçada. Ele era forte, ele era muito forte, mas nem mesmo o Gigante poderia resistir a um fulminante ataque viral, pneumonia, ou solidão. E o Poeta tentava sensibilizá-lo dizendo:
- Você pode morrer de fome, de sede, de frio! Sim você pode pegar um gripe e morrer, você quer morrer assim?
E ele nada.
- Você quer morrer dessa forma, sofrendo e sozinho, e depois que você morrer, o que vai acontecer? Pra onde você vai? Não tem medo?
- Depois que eu morrer acabou.
Foi a primeira vez desde que o Poeta o conheceu que ele não responde com repetição da pergunta e monossílabos. O poeta ficou muito feliz e na sequência do diálogo primevo é o Gigante quem diz:
- Morreu acabou!
O poeta que não é dado a debates, não quis a polêmica nem mudar à força aquele ponto de vista, só do Gigante ter um ponto de vista já era maravilhoso, era muito bom! Bengala Mágica essa de Nostradamus...

texto retirado do meu livro: "O Poeta e o Gigante".
Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 16/07/2020


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