Acaso ou predestinação?
COLUNA “O CONTADOR DE HISTÓRIAS”
COLUNA 18 (TEXTO 1 ABRIL DE 2005) LEONARDO DANIEL RIBEIRO BORGES Acaso ou predestinação? Na vida as coisas têm o valor que damos a elas. Na ação, na atitude, na plenitude do ser está eu, está você. Ancorado no arcabouço de valiosas recordações, o homem ignoto e distante é o viajante em busca do amanhecer. Se é acaso ou predestinação dependerá de como se vê a vida e você. A vida não ensina, a vida insinua, não põe o dedo na sua a cara e afirma é essa a sua sina, só os covardes se escondem na idade, só os covardes forjam um falso lábaro no templo da criação e se perdem em mais teorias com a vaga intelecção. O acaso pode até ser belo, o acaso pode ser até um pôr do Sol amarelo, o acaso pode ser causado pelo ocaso, é bonito ver a vida sem expectativas, sem ilusão, como o poeta que vê em cada palavra um poema, como o ator que faz de cada situação uma cena, como o pastor que cuida da ovelha que o chama. A predestinação pode até ser bela, um passado atemporal de quando se era estrela, um código que não é uma receita, mas sim, a alma e sua beleza, a fé para o que der e vier, a vida em prontidão. Como elos na criação. Tudo se liga e volta a se ligar, separar é simples dilema que nunca resolve o problema, não há problema, perdoe o que der pra perdoar esqueça o que não tiver perdão. Acaso ou predestinação? O poeta não vive da crítica, o poeta não vive porque é triste, o poeta não vive porque é alegre, o poeta vive porque é poeta e assim é feliz, o acaso para ele, são os primeiros versos que vêm de Deus ou do Insensato, a predestinação para ele são aqueles versos, que de tão belos não são dele, são ele e emanam dele para os demais. A vida não é tristeza e nem alegria, a vida é uma brincadeira, é fingir ser gente grande e andar de roda gigante, a vida é feliz, e só é feliz quem bebe a vida que quase escapa ao aprendiz. Aprenda, não há nada para aprender que não esteja em você, não há nada de importante para fazer se não do for de seu interesse. “A vida não pode ser um conta-gotas na sua mão”. Se é acaso ou predestinação não sou eu quem irá dizer, só sei que na síntese os opostos se comunicam e é belo não esperar dentro do castelo a estrela do menino Jesus, e belo é carregar a nossa cruz. Acaso não sabes a tua predestinação? Não reprima as crianças com o dogma da separação, não estamos sós e não viemos para findarmos na criação, o acaso é causado por demais, por belos pais e a predestinação é causada pela visão da revelação. Como a imagem que faz de um mortal um poema que não se findará, não irá morrer, dividir a vida entre acaso ou predestinação é separar o homem de Deus, é separar o homem entre ateu e não ateu. Não prenda a vida num conta-gotas, saia ao desconhecido do deserto, a estrela cadente ao vivo e ao certo não pode ser esperada, é a vida do acaso linda e predestinada. Leonardo Daniel Ribeiro Borges* leodanielrb@yahoo.com.br *Leonardo é poeta, professor e contador de histórias
Leonardo Daniel
Enviado por Leonardo Daniel em 20/04/2020
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