Léo Daniel

Amar é servir. Servir é ser livre para Amar.

Textos

Análise do filme Laranja Mecânica à luz do behaviorismo
Faculdade de Letras/UFG
Psicologia da Educação/Profa. Renata
Análise do filme Laranja Mecânica à luz do behaviorismo
Alunos: Mayara Leão, Dário Taciano de F. Júnior e Leonardo Daniel R. Borges

Homem mecanizado ou condicionamento cívico?

Neste artigo focaremos fundamentalmente cinco conceitos do behaviorismo aplicáveis ao filme Laranja Mecânica são eles: a generalização , a discriminação, a punição, o reforço e a extinção.
Os conceitos de generalização e discriminação são cambiáveis, ou seja, há uma interação entre os mesmos, isso se dá porque eles podem variar de acordo com o contexto. No filme Laranja Mecânica a presença da linguagem diferenciada, parecida com a junção do russo com o inglês, é tida como prova de generalização quando códices são compartilhados pelos membros da gangue e entre gangues diferentes, portanto podemos definir que a generalização é o responder idêntico à estímulos diferentes.
Agora esse mesmo dialeto falado pelas gangues tomado fora delas é um exemplo de discriminação, uma vez que o contraste fica estabelecido entre os “falantes naturais” e não “falantes naturais” desse dialeto, já que fica evidente que há uma discriminação de estímulos (neste caso estímulos oriundos da linguagem) quando a linguagem é decorrente de autoridades, ou quando se tenta familiarizar com as mesmas compartilhando do mesmo dialeto, como no caso em que o protagonista Alex se dirige ao Ministro do Interior chamando-o por drugues, ou seja, integrantes de um mesmo grupo.
É de fundamental importância esse mecanismo intercambiável entre generalização e discriminação, pois se Alex se valesse só da generalização como ele poderia se posicionar de uma dada maneira diante de um contingente de estímulos se seu comportamento não passasse pela discriminação? E como se daria o tom irônico e chistoso do filme sem essa movimentação, e talvez, dissimulação de Alex? O que nos remete a indagação no título do artigo e nos faz pensar em até que ponto Alex foi mecanizado desumanamente e até que ponto ele foi condicionado para assegurar sua própria humanidade.
No tocante à punição, primeiramente devemos defini-la como uma operação ou processo que visa a diminuição de um comportamento e, no filme ela ocorre quando Alex é preso e fica dois anos na prisão, nesse período Alex é submetido tanto à punição positiva: acréscimo de estímulos cuja apresentação tende a reduzir a probabilidade de respostas, tais como as regras, o uniforme, as linhas no chão, o número para a sua identificação e o tratamento com os oficiais, (e aqui cabe uma ponte com os conceitos de generalização e discriminação, pois o número para a identificação é um exemplo de generalização e chistosamente a forma como Alex se dirige aos oficiais é uma discriminação de estímulos).
Tudo isso fora acrescentado para que Alex não responda anti-socialmente e de maneira criminosa aos estímulos punidores. Como punição negativa: observamos a remoção de estímulos, a fim de reduzir a probabilidade de respostas violentas, lhe é tirado a sexualidade, a liberdade, as roupas e o nome. As punições positiva e negativa atuam se complementado. Uma atua na ausência da outra, mas ambas residem na tentativa de diminuição comportamental e não no castigo. O sofrimento se dá é pela necessidade de adaptação frente à frustração.
Em se tratando do conceito behaviorista de reforço, vale a pena ressaltar que ao contrário da punição, o reforço visa aumentar um comportamento e não diminuir. No filme, ele aparece como conseqüência do tratamento do Método Ludovico ao qual Alex é submetido.
Alex antes do tratamento apresentava um comportamento operante, ou seja, ele a partir de estímulos (sexo e violência preponderantemente) visava a como resposta à consumação de seus desejos dos quais temos como conseqüência o prazer. Nisso residia a sua periculosidade e disso resultou seus crimes. O tratamento foi um condicionamento para que Alex adquirisse um outro comportamento onde ele fosse inofensivo.
Sendo assim, Alex submetido aos estímulos de sexo e violência, teve como resposta a fuga: retirada diante do estímulo aversivo e a esquiva prevenção para que o encontro com o estimulo aversivo não ocorra (que aliás nem pôde ser praticada deliberadamente pelo Alex), já que a conseqüência não era mais o prazer e sim a dor. O tratamento foi um Reforço Positivo, pois aumentou o comportamento de fuga e esquiva, frente a estímulos constantes de sexo e violência, e tudo isso graças ao acréscimo de um elemento e, portanto Positivo que atuou na conseqüência alterando-a tal elemento foi a droga.
A droga foi um elemento importante, mas, não é a base comportamento condicionante. No entanto, ela pôde de alguma forma transformar o prazer em dor.
Por fim, falaremos da extinção que é a retirada dos estímulos condicionados e incondicionados. No filme, a extinção se deu a partir do coma de Alex que segundo a narração, poderia ter durado uma eternidade, no coma cessou-se a presença de estímulos e Alex se viu ao retornar a lucidez capaz de suportar a música e os outros estímulos de violência e sexo.
Podemos concluir que Laranja Mecânica é o processo pelo qual o homem se automatiza, se torna máquina, sendo incapaz de fazer suas escolhas morais, tal como afirmou no filme o padre anglicano, pois se não há escolha só há uma moral que sirva aos intentos pragmáticos de uma sociedade imediatista e cercada pela violência que não consegue vencer. Alex no final do filme se vê frente ao determinismo que o condicionou e aos interesses políticos reforçados pelo seu caso sem que sua perversidade fosse “curada” como fica provado pelo seu comportamento privado.
E se queremos responder a indagação inicial só o podemos fazer mediante um posicionamento ideológico que irá desconsiderar a atitude idiossincrática do individuo, inclusive com suas responsabilidades, pois se decidimos que o homem se mecanizou desconsideramos o porquê disso e se decidimos que o homem foi condicionado para o bem da civilização desconsideramos o como disso, não podemos focar uma reeducação apenas pelos resultados, não podemos focar uma reeducação sem resultados, eis a problemática.  
Leonardo Daniel, Mayara Leão e Dário Taciano de F. Júnior
Enviado por Leonardo Daniel em 26/03/2020


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